Ilustração por bw-inc, em deviantart
Design é mesmo uma profissão cheia de amores… Você sempre acaba se apaixonando por alguma marca, algum padrão, algum pantone, algum layout que criou. E então vem a hora de apresentar pro cliente. Que tensão. Dependendo de suas últimas experiências você fica esperando o pior. O que será que farão com o meu pequeno pedaço de ‘perfeito’ design?
Pronto. O cliente aprovou! TCHAM! Que demais! Podemos finalizar ou continuar a desenvolver os materiais baseados nesse mesmo conceito… Mas nem sempre é tão simples assim, não é?
Bom, a partir da minha curta, porém arduosa, experiência profissional, acabei por definir 3 diferentes grupos onde podemos encaixar quase todos os clientes:
1) Cliente MARA: O cliente mara é mesmo um sonho. Cliente mara é aquele que você tem até vontade de criar um mural na sua agência (se ainda não tiver) e colocar uma foto dele fazendo um ‘okeizinho’. Com esse cliente o processo é mesmo uma maravilha (pegou?!). Você recebe o briefing lá de cima, dá uma pensada, uma pesquisada, desenvolve um conceito bacana, monta uma apresentação que explica legal o que quis dizer com tudo aquilo e o material é enviado pro cliente. E pronto, ele aprova. Alguns mandam e-mails delirantes dizendo que amaram e que era justamente aquilo que queriam. Outros apenas aprovam e pedem para tocar o resto do serviço. Sabe, eles nem precisam ser simpáticos para que você os ame. São mesmo uma mara.
2) Cliente CABEÇA: Já o cliente cabeça não é tão facinho. Os primeiros passos são exatamente os mesmos, mas o retorno não é extremamente positivo. Na verdade, o cliente cabeça acaba sendo ainda melhor do que o cliente mara, porque com ele vc aprende como se expressar melhor, como abrir mais sua visão, como entender o que está errado com sua arte. Este cliente aprova o conceito, aceita sua idéia raíz, mas faz questão de dar opiniões para que o trabalho fica zerado. Tá, tudo bem, as vezes ele chuta errado… Mas o cliente cabeça sabe conversar e se vc tiver um lábia legal você pode convencê-lo. O cliente cabeça tem mais experiência na área. O cliente cabeça é uma extensão do seu professor exigente da faculdade…
3) Cliente LOBO: Sim, sim, o cliente lobo. O cliente lobo te consome, te destroi, te entristece, te faz querer ser dublador (sim, isso acontece comigo). Para começar, o briefing não vem nem lá de cima… vem de baixo mesmo! O cliente lobo é esperto e só mostra sua verdadeira face após o primeiro contato: a primeira desaprovação de conceito. Tudo bem, normal. Passemos para outra. Não aprovado novamente. Telefonemas, reuniões, e-mails, ameaças de morte, nada funciona. Com o cliente lobo não existe um caminho; não existe um conceito. As vezes o cliente lobo te engana pela manhã, aprovando um layout; mas aí, ele sai a caça pela noite e te surpreende na manhã seguinte: ‘não, não.. não era isso. eu não aprovei isso’. O final da história é sempre trágico: os palpites dele acabam se misturando, criando um girafa azul de tromba e, com esse monstro, você tem que desenvolver outras coisas. MAS COMO? Seu conceito foi totalmente devorado pelo cliente lobo…
Nessas horas bate mesmo um desespero. Palavrões mil, pressão alta, gastrite… O que fazer? Xingar? Ser arrogante? Discutir até o fim? Perder o cliente? Há alguns dias entendi meus limites e os limites dos meus clientes: você possui o conhecimento. Seu cliente está pagando por isso. Nada mais adequado do que expressá-lo. Mas sempre existirá um ponto onde você vai perceber que não tem mais por onde conversar; o tom de voz de seu cliente te cala completamente. Quando isso acontece é hora e abortar a missão antes que essa bomba exploda. Transforme-se em uma mera ferramenta e faça tudo aquilo que seu cliente quiser, afinal, a peça é dele, e ele terá muito orgulho de mostrar para a mãe, dizendo que foi ele que criou tudo porque o designer era um idiota.
Claro, cada caso é um caso e essa maneira prática não é, e não deve ser, sempre a solução. Mas vc com certeza já passou por isso. Calma! Segura a gastrite aí!
Depois, vc pega aquilo e esconde láááá no final do armário de arquivo, pra nunca mais ninguém achar.
Pobre do próximo designer que tiver que retomar aquele trabalho.
8 comments
hahaha! ótima história!
eu fico realmente decepcionado quando o que vale é que o cliente está pagando, portanto o trabalho deve ser feito como ele quer. poxa, cliente não é designer, é arquiteto, engenheiro, médico, empreendedor, qualquer outra coisa. pode opinar, mas não mandar. eu nunca cheguei para um cirurgião e meti o bedelho falando “ah, corta essa veia aqui, passa super bonder nesse buraco (traquéia)”. cada um tem sua área de atuação e deve respeitar a do outro.
pessoalmente, para mim o mais importante é fazer o que o cliente precisa, e não o que ele quer. mas é algo complicado, principalmente por sermos empregados, e não chefes. existe uma relação entre agência/cliente que se esta discussão for prolongada pode ser abalada. o que eu acho uma pena, pois isso é a mais pura demonstração de que a agência quer fazer o melhor trabalho possível, e que o cliente está sugerindo (ou impondo) caminhos inviáveis ou excessivamente batidos, fazendo mais do mesmo, sem tentar algo diferente e belo (além de funcional, que deve ser o ponto chave nos projetos).
Gostei bastante do blog, tentarei visitar o maximo de vezes possivel…
x)
É só eu, ou alguém ainda não conheceu um cliente mara?
Mandou bem, Milts… sempre haverão clientes Lobo.
É Eduardo…
eu ainda também não conheci um cliente Mara. hahaha.
acho um pouco raro!!
tipo um elefante branco…
Ola,
Quero dar meu depoimento
Sou administradora com formacao em marketing, design grafica e webdesign.
Trabalho como CLIENTE contratando profissionais em uma empresa
Acho que os design devem tomar cuidado por o EGO fazem com que muitas vezes o CLIENTE final nao o respeitem a classe
Por exemplo.. trabalho para uma empresa que a identidade visual eh quente, marron/dourado, logo vinho, decoracao madeira..
Contratei uma EMPRESA para criacao de um site.. BOA EMPRESA.. com sites lindos na internet.
Ninguem da equipe foi na loja ver como ela era fisicamente.. para sentir o clima.
Fizeram um site com textura azul acinzentado, combinado com o uso de uma cor meio de “burro” qd foge, alinhamentos, erros de logica e usabilidade CLAROS..
Impossivel nao falar e pedir para corrigir..
Depois vem esse papo de se comparar com medico, engenheiros.. lembremos que existem erros medicos e predios que caem.. e o cliente/consumidor tem que alertar quando estao pagando e nao estao felizes com o que veem.
Abraco a todos !!
So para complementar..
Eu falei isso pq o dono da empresa ficou chateado com as nossas alteracoes e ficou se comparando com medico e engenheiro..
;o)
@Lucianna Ramos – SP: hahahahaha! Lucianna, acho que essa sua história ilustra bem um caso em que nada adianta um projeto visualmente bonito, lindo até, se o conceito for furado, se não atender as necessidades do cliente.
na minha visão, para o designer ser bom não basta apenas fazer coisas bonitas e maravilhosas. é preciso ter conceito, tudo tem que se encaixar e funcionar direito, agregando mais valores ainda para as marcas! =]
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